domingo, 11 de novembro de 2007

Gabriel, o Contador de Histórias (Número 3) A Flor Azul - parte 2

Lá estava Mário, o pai do menino doente, tarde da noite no porto de Santos, há alguns quilômetros de São Paulo.
Despedia-se da esposa Cíntia, naquela noite fria. As lágrimas se misturavam com a chuvinha fina.
O vento era forte, quando um homem apareceu e disse:
— Mário, falei com o capitão do navio e está tudo certo. Você pode viajar, mas terá que fazer alguns trabalhos dentro do navio.
— Tudo bem meu amigo, te agradeço por ter feito isso por mim. Eu não tenho dinheiro para pagar a viagem e preciso encontrar a cura para o meu filho.
O amigo coloca a mão no ombro de Mário e diz:
— Mário, sinceramente, acho loucura o que está fazendo. Esse médico que falou sobre esta flor azul, ninguém o viu. E esta flor que nunca ouvimos falar? Mas de qualquer forma, você é meu amigo e estou te ajudando. Vá com Deus!
Lentamente o amigo vai caminhando para longe e, Mário dá um beijo em sua esposa, vira-se e anda até o navio.
A manhã estava começando e Mário já não via mais o Brasil. Apenas o mar.
Ali havia marinheiros de diferentes países e diferentes línguas. Logo o colocaram para trabalhar, que por não ter experiência a bordo, ficou com tarefas como limpeza, descascar batatas, ajudar na cozinha e, coisas assim.
Logo também foi aprendendo um pouquinho das diferentes línguas, entre elas o chinês, pois havia muitos marinheiros chineses.
Passaram-se muitos dias. O navio cruzou os mares. Venceu duas grandes tempestades, mas chegou num porto do outro lado do mundo. Ali desceu Mário, com suas poucas coisas numa sacola. Lembrava de sua família, sua amada esposa, seu primeiro filho e, especialmente de seu filho doente. Sabia que tinha que continuar. Precisava encontrar a cura.
O porto era muito agitado. Com muitas pessoas trabalhando, cargas entrando nos navios, cargas saindo dos navios.
Mário despede-se dos marinheiros. Foram dias difíceis, de muito trabalho, mas ao acenar para eles, conseguiu ver leves sorrisos.
Continuando sua jornada em busca da cura, precisava ainda percorrer muitos quilômetros e, assim foi viajando, horas a pé, horas de ônibus, horas de carona. Até de carroça chega a viajar.
Atravessa um grande deserto, mas a hora mais difícil começou quando o vento gelado das montanhas, cobertas de neve, faziam arder o rosto de Mário. Já estava cansado, com a barba grande, mas se mantinha firme na esperança que encontraria a flor azul.
Mário perguntava para as pessoas, na língua que aprendeu no navio, sobre a tal flor, mas as pessoas respondiam que não a conheciam.
Já há alguns dias caminhando incansavelmente e com fome, Mário sentia-se com febre e desmaiou.
Quando acordou, estava numa cama de uma pequena casa. Uma família estava cuidando dele e já se sentia melhor.
A família daquele vilarejo então perguntava o que ele procurava. Mário responde que procurava uma rara flor azul, que poderia curar seu filho doente no Brasil.
Eles diziam que isso era uma lenda e, que não passava de uma história para fazer as crianças dormirem. Mas havia um velho no vilarejo, que talvez poderia falar a respeito.
Mário foi até a casa do velho e o viu de costas cuidando de umas plantas. Quando ele se virou, levou um susto.
— Dr. Chin! O que o senhor faz aqui?
O velho falando em chinês, não mostrando reconhecer Mário:
— Então você é o homem que procura a flor azul...
Mário, percebendo que o velho parecia não entender português, fala então em chinês:
— Dr. Chin! Não lembra de mim? Lá no hospital, no Brasil? Já nos conhecemos, não lembra?
— Jovem, não o conheço. Nunca estive em outro país. Nunca saí desse vilarejo. — diz o velho.
Mário desiste de entender e foi direto ao assunto:
— Diga-me, onde posso encontrar a flor azul?
— Vê aquele monte? Não é o mais alto daqui, mas é no alto dele que cresce a flor que você procura.
Mário conseguiu um casaco de pele de animal e partiu para o monte.
Veio a tempestade e muita neve, fazendo com que Mário se escondesse nas pedras da montanha durante a noite. No dia seguinte, havia sol, acorda e caminha até o alto.
Já no alto, vê os raios de sol iluminarem as flores azuis. Mário sorri, arranca uma delas e a guarda.
Começa então a longa jornada de volta...
Muitos dias depois, um navio chega no porto de Santos e ali se vê um homem correndo. É o Mário, com sua pequena sacola, com pressa de reencontrar a família, com pressa de salvar o filho.
Na rodovia, consegue carona de volta a São Paulo e, lá chegando, hora de ônibus, hora correndo, vê o hospital.
Na recepção, passa correndo, esbarra nas pessoas no corredor, até que chega no quarto do filho, onde reencontra também a esposa e o outro filho.
Durante um grande abraço, Mário tira a flor azul da mochila. O chá é preparado e dado ao filho doente.
Alguns dias depois, o menino acorda melhor e diz:
— Pai! Você conseguiu. Eu disse que ia te esperar.
— Sim, meu filho. Percorri os mares, enfrentei tempestades, caminhei pelo deserto, subi os montes, venci o frio e a neve. Achei a cura. Esse é o amor de Deus, meu filho. Eu que sou seu pai fiz isso por você. Deus, que é o nosso Pai, fez muito mais, nos deu Jesus, nosso Salvador.

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